Eles fazem sorrir. Não queira ter uma relação com
seu carrão cheio de botões, reboque cromado para não puxar nada, flex powers,
trios elétricos, fly by wire, e ABS igual à que eu tenho com o meu. Você vai
perder. Meu carro tem nome, eu converso com ele e entendo o que se passa no seu
coração. Ninguém olha para você nesse esquife filmado com vidros escuros como o
breu. Para mim, todos olham e acenam. Se o seu carrão pifar no meio da rua, ou
numa estrada no fim do mundo, ninguém vai parar para te ajudar. E se alguém se
aproximar, você vai achar que é ladrão. Se o meu estancar no meio da avenida
mais movimentada de Goiânia, vem um monte de gente para empurrar. E é o pai de
um que teve um igual ao meu, o tio do outro que dirigia um táxi idêntico, a avó
de um terceiro que ainda tem o seu guardado na garagem que só usa para ir à
feira, e se eu não souber o que fazer para ele pegar de novo, alguém saberá.
Meu kit de sobrevivência nas ruas é barato. Um joguinho de ferramentas, desses
que se compram em camelôs, com uma chave de fenda, um alicate, algumas chaves
de boca e arame: arame é essencial. Oh, que coisa mais primitiva, dirá você.
OK. Tenha uma pane no seu carrão eletrônico para ver o que acontece. Nem tente
abrir o capô. Você não sabe o que tem lá dentro. Cuidado, ele pode te engolir.
Torça para o celular estar com o sinal pleno e chame um guincho, a seguradora,
o papa. Sente e espere. Seu carrão só vai funcionar de novo quando conectarem
um laptop nele. E prepare o talão de cheques. Meu carro, não. Tem carburador,
distribuidor, diafragmas, bobina e velas, tudo à vista. Sei quando o piripaque
é na bomba de gasolina. Sei quando é sujeira da gasolina. Sei assoprar um
giclê. Aliás, sei onde fica o giclê. Procure algo parecido na sua injeção
eletrônica. Seu carro é um emérito desconhecido sem história ou currículo. O
meu têm 30 anos ou mais, já passou por muita coisa nessa vida, e quando saiu de
uma concessionária, décadas atrás, estacionou na garagem em forma de sonho
realizado. Carro fazia parte da família, antigamente. Ah, mas o meu tem
ar-condicionado, disqueteira e controle de tração, dirá você. Sim, mas você
nunca terá o prazer de dirigir de vidros abertos e cotovelo para fora da
janela, meu rádio toca as mesmas músicas, e não me faça rir com o seu controle
de tração. Quantas vezes ele foi necessário? Além do mais, existe um negócio
chamado prazer. Prazer de ter algo que lhe é caro e precioso, mesmo que não
valha muita coisa. Carros iguais ao seu todo mundo tem. Vejo aos milhares todos
os dias, e nenhum deles tem a cara do dono. O meu tem. E quando ele quebra, eu
mesmo conserto. E ele me agradece andando de novo, fazendo com que as pessoas
sorriam quando passa nas ruas, fazendo barulho e soltando fumaça. Não há nada
como um automóvel que faça alguém sorrir.
Maravilhoso cara! maravilhoso!!! É isso mesmo! O carro é a cara do dono e só quem o ama entende isso! Deus te abençoe e lhe dê muitos anos de alegria no seu Fusca. Grande abraço, Marcio Pocciotti
ResponderEliminar